Da semana: ''Anjinho'' de Álvares de Azevedo

Oi, gente!
No Ensino Médio, eu chorava para ter mais aulas de literatura. Eu não considerava aqueles momentos como aula, e sim, como um grande passatempo. Admito que eu não gostava da ideia de ficar decorando datas e nomes, mas com o tempo, ao ter o contato em si ao ler as obras, tudo ficou mais fácil. Hoje, culpo-me se erro datas, e além de saber o nome dos poetas, quero ir mais além... gosto de saber da vida deles.
Lembro-me muito bem do primeiro poeta que estudei, quando comecei o primeiro ano do Ensino Médio: era o tão fabuloso Boca do Inferno. Estudar o Barroco com os poemas que a apostila escolhia não era legal, eu admito. Gregório de Matos tinha poemas tão mais interessantes! Por que diabos a apostila escolhia os mais chatos?
Enfim, não vou me demorar neste post, pois o foco dele não é falar sobre minha vida com a literatura. Talvez eu resolva falar um pouco mais disso em outra postagem... 
Agora quero mostrar a vocês um poema que gosto muito e acho bastante bonitinho, ao mesmo tempo que é triste. O nome da obra é ''Anjinho'' de Álvares de Azevedo, poeta dos tempos do Romantismo.




Anjinho

And from her fair and unpolluted flesch
May violets spring!

(Shakespeare, Hamlet)


Não chorem... que não morreu!
Era um anjinho do céu
Que um outro anjinho chamou!
Era uma luz peregrina,
Era uma estrela divina
Que ao firmamento voou!



Pobre criança! Dormia:
A beleza reluzia
No carmim da face dela!
Tinha uns olhos que choravam,
Tinha uns risos que encantavam!...
Ai meu Deus! era tão bela.



Um anjo d'asas azuis,
Todo vestido de luz,
Sussurrou-lhe num segredo
Os mistérios doutra vida!
E a criança adormecida
Sorria de se ir tão cedo!



Tão cedo! que ainda o mundo
O lábio visguento, imundo,
Lhe não passara na roupa!
Que só o vento do céu
Batia do barco seu
As velas d'ouro da poupa!



Tão cedo! que o vestuário
Levou do anjo solitário
Que velava seu dormir!
Que lhe beijava risonho
E essa florzinha no sonho
Toda orvalhava no abrir!



Não chorem! lembro-me ainda
Como a criança era linda
No fresco da facezinha!
Com seus lábios azulados,
Com os seus olhos vidrados
Como de morta andorinha!



Pobrezinho! o que sofreu!
Como convulso tremeu
Na febre dessa agonia!
Nem gemia o anjo lindo,
Só os olhos expandindo
Olhar alguém parecia!



Era um canto de esperança
Que embalava essa criança?
Alguma estrela perdida,
Do céu c'roada donzela...
Toda a chorar-se por ela
Que a chamava doutra vida?



Não chorem... que não morreu!
Que era um anjinho do céu
Que um outro anjinho chamou!
Era uma luz peregrina,
Era uma estrela divina
Que ao firmamento voou!



Era uma alma que dormia
Da noite na ventania
E que uma fada acordou!
Era uma flor de palmeira
Na sua manhã primeira
Que um céu d'inverno murchou!



Não chorem! abandonada
Pela rosa perfumada,
Tendo no lábio um sorriso,
Ela se foi mergulhar
- Como pérola no mar -
Nos sonhos do paraíso!



Não chorem! chora o jardim
Quando marchado o jasmim
Sobre o seio lhe pendeu?
E pranteia a noite bela
Pelo astro ou a donzela
Mortos na terra ou no céu?



Choram as flores no afã
Quando a ave da manhã
Estremece, cai, esfria?
Chora a onda quando vê
A boiar um irerê
Morta ao sol do meio-dia?



Não chorem!... que não morreu!
Era um anjinho do céu
Que um outro anjinho chamou!
Era uma luz peregrina,
Era uma estrela divina
Que ao firmamento voou!


Segundo o livro de onde eu tirei o poema (tem uma parte falando ''Sobre o autor''), esse poema foi feito talvez por conta da morte do irmãozinho de Azevedo, Manuel Inácio. Quando fiquei sabendo disso, a obra me deixou ainda mais triste. Ela é bem óbvia, e nem precisa de muito raciocínio para entendê-la -- o que não a torna simples. Gostei bastante da forma como ele tratou a morte aqui, como se fosse um alívio. Como se morrer fosse sorte. Dependendo da pessoa que lê, e em que estado tal indivíduo está, ''Anjinho'' é um tanto reconfortante.

E aí? O que acharam de tão primorosa obra?

Beijos!

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